segunda-feira, 3 de outubro de 2016

Sem sentido

   
     Certa feita em um reino distante, muito distante mesmo, onde as pessoas falam enrolado, os "erres" são pronunciados como o Galvão grita "Ronaldinho" misturado com sons guturais dignos de bandas de Black Metal. Houve uma guerra devastadora, um certo bigodinho de um partido ultra nacionalista tocou o terror por lá. O bigodinho se meteu com um bigodão e levou uma surra, esse reino então passou a se equilibrar no fio da navalha. Na verdade todos os outros reinos se equilibravam como podiam pra evitar outra destruição em larga escala.
     Depois dessa treta toda, as pessoas trabalharam duro durante a reconstrução desse reino, e a bicicleta, era absoluta como transporte lá. A bonança chegou rápido, o reino era rico, explorador de colônias mundo a fora e um grande banco do velho continente. Com a bonança, veio o automóvel. Com o automóvel individual, foram-se as bicicletas, parte da história das cidades que deram lugar a novas ruas. Foram-se árvores, calçadas, bondes, vidas... Muitas vidas! Foram tantas que em determinado momento as pessoas perceberam que o meio de transporte estava cobrando um preço alto demais. O preço da gasolina também ficou alto, a bonança financeira também se foi por um momento. O reino do bigodão se foi. As bicicletas reapareceram e ainda permanecem lá, lindas, amontoadas por toda parte e até no fundo dos canais. A cidade foi repensada, o reino não precisava mais de tanto asfalto. Praças, mais calçadas, mais ciclovias. Hoje o reino é reverenciado e copiado como modelo de transporte urbano.
    Em um outro lugar diferente, uma republica. Essa aqui pertinho e não tão rica, nem tão destruída e nem tanto inteirassa assim, houve um lampejo ciclístico. Lampejos são desajeitados mesmo, não são regulares e podem não significar muita coisa ou talvez, um princípio de uma grande ideia. Uma certa estrela, hoje em frangalhos - por causas diversas - em meio a aves de bico longo tentou implantar uma cópia do reino descrito anteriormente. Apostavam que a infraestrutura deveria preceder as pessoas em bicicletas. Mudaram limites de velocidade e ritmo em que a vida se esvai em acidentes de trânsito diminuiu.  Recuperaram uma pequena parte do chão da cidade. Chão tão ignorado por tanto tempo pelas próprias pessoas que vivem sobre ele. Nesse reino aqui perto, parece que as pessoas não ligam para as outras pessoas. As aves de bico grande se alvoroçaram, o ninho estava em perigo. "Que se faça velocidade novamente! Não fiscalizem mais nada! Essas ciclovias não ligam nada a lugar nenhum, acabem com elas! Fogueira, matem todos! Estão pensando que aqui é o quê? O reino anteriormente descrito!? Vá pro reino da ilha cercada!" gritaram. E gritaram tanto, tão alto, que os súditos ouviram, aceitaram e apertaram o botão verde da aprovação. As aves de bico longo vão voltar. Parece que as coisas por aqui são como o Usain Bolt fazendo o moonwalk do Michael Jackson.

*Toda e qualquer semelhança com a realidade foi de propósito.

sexta-feira, 12 de agosto de 2016

Torneio Capital Racing de Ciclismo: Etapa Park Way


Pois é, já se passaram quase três semanas e eu não consegui escrever uma linha sobre minha participação nesta etapa do Park Way. Não foi pela organização, esta estava impecável. Mesmo em um lugar difícil, onde o tráfego de veículos tinha que permanecer aberto durante a prova. Não foi pelo percurso, que eu não conhecia apesar da proximidade - achei muito bom, inclusive. Subidas, descidas e curvas pra todos os lados. Foi porque falhei miseravelmente. 
Só um Mojito tá de boa
Não teve graça nenhuma, a minha prova. Na subida mais longa consegui me manter no pelotão, desci lá na rabeira até a subidinha da capivara. "Subidinha" por que ela é curta, mas chega a 10% de inclinação. No meio dela, com o coração na boca, lembrei dos dias de praia, "preguiça" (quando se viaja com filhas não tem taaanto descanso assim) e mojitos cubanos. Ah, Cuba... É, sem treinar direito não tem suco de beterraba que dê jeito. Nem o Luigi teria as manhas pra resolver. Pois bem, minha corrida não terminou na subida. Passei longos minutos tentando buscar o pelotão novamente, revezando com outros 2 ciclistas da Evolua. Muita força, mais coração na boca com o pelotão logo ali... Situação de pesadelo onde você corre e não chega. Não sei exatamente quanto durou, mas uma hora achei que era suficiente e desisti.

Que sensação horrível perder o pelotão antes da metade da prova. "Fueda", próxima vez vou tomar o dobro de mojitos que é pra nem pensar em ir na mesma situação. Dia 28 de agosto acontecerá a próxima etapa, no Guará. Sir Dave Brailsford não está muito feliz com meu desempenho, muito menos eu.

Um ano de Ciclismo. Sério!

O "feice" me avisou hoje que há um ano eu comecei a escrever sobre bicicletas, ciclismo e ciclistas. "Nossa, passou rápido, né?". Rápido nada, foram 365 dias, 106 textos, 26620 visualizações e 643 seguidores lá no "feice".

Obrigado a todos pelos cliques, comentários e curtidas!

segunda-feira, 1 de agosto de 2016

Tour pelo Tour: Grana

Yo, look at my ride!
Voltando ao Tour - ainda não superei o final da grande volta - no último texto fiz uma comparação de performance entre o candango aqui com o campeão do Tour 2016, Chris Froome. Outra matéria, agora da Cycling weekly, me chamou a atenção (original aqui e aqui). Na verdade são duas que eu juntei em um post aqui. Qual o orçamento estimado dos times e quanto cada time levou em prêmio. Comparado com meu time, o inigualável Time de Ciclismo Sério. Acabei de inventar isso.

O time que tem o maior orçamento é bem fácil de acertar, até pra quem pedala no mato. A Sky conta com uma verba monstra quem vem majoritariamente da Sky UK Limited que é o maior provedor de TV e internet do Reino Unido. Outra parte, bem menor, cerca de 15%, vem da 21st Century Fox estado-unidense. Pesquisando um pouquinho achei que em 2015 a verba da Sky foi dividida desta forma: foram 15,6 milhões de Elizabeths de Windsor (67 milhões de Dilmas) dos grupos acima citados. 2,96 milhões (12,6 milhões de Dilmas) da Pinarello, Shimano e outros patrocinadores de equipamentos. 1,98 milhões (8,6 milhões de Dilmas) da Jaguar e 3,8 milhões (16,3 milhões de Dilmas) dos organizadores para cobrir as despesas quando um time participa de uma competição). Nada mal.

Já no Tour de 2016 estima-se que o ranking de orçamento dos times ficou assim (Valores em Merkels, mais conhecido como Euros):

Team Sky – €35m
Katusha – €32m
BMC – €28m
Tinkoff – €25m
Astana – €20m
Etixx-Quick Step – €18m
Movistar – €15m
Lotto-Soudal – €14m
LottoNL-Jumbo – €14m
Dimension Data – €13.5m
Orica-BikeExchange – €13m
Giant-Alpecin – €12.5m
Trek-Segafredo – €12m
Ag2r La Mondiale – €12m
Cofidis – €11m
IAM Cycling – €10.5m
FDJ – €10m
Cannondale – €10m
Lampre-Merida – €7m
Direct Energie – €6m
Bora-Argon 18 – €4.5m
Fortuneo-Vital Concept – €3.5m

Os russos tem bala na agulha. Imagem: Al Hamilton
O segundo lugar eu não acertaria nunca, os russos da Katusha têm bala na agulha. A grana vem das gigantes russas Gazpron e Areti. O falastrão Oleg Tinkoff vem só em quarto, atrás dos suíços da BMC. Lá no final está o novo time de Peter Sagan, a Bora-Argon (que vai mudar de nome em 2017).

Mas será que valeu a pena? Provavelmente sim, o Tour é um dos mais assistidos eventos esportivos do mundo. Não faço a menor ideia de como os patrocinadores medem o retorno financeiro da exposição das marcas. Mas o Tour está na centésima segunda edição. Deve dar retorno. Uma coisa que podemos medir são os prêmios em dinheiro distribuídos pela organização. O Ranking ficou assim:

Team Sky – €599,240
Ag2r La Mondiale – €247, 140
Movistar – €229,350
Tinkoff – €189,470
Orica-BikeExchange – €158,810
BMC – €121,170
Lotto-Soudal – €90,860
Dimension Data – €88,590
Etixx-Quick Step – €87,610
Katusha – €68,500
IAM Cycling – €67,230
Lampre-Merida – €61,900
Giant-Alpecin – €51,570
Astana – €39,430
Bora-Argon 18 – €32,730
Direct Energie – €29,290
FDJ – €27,870
Trek-Segafredo – €26,360
Cofidis – €22,760
LottoNL-Jumbo – €21,750
Fortuneo-Vital Concept – €20,120
Cannondale-Drapac – €14,100

AG2R trabalhando. Imagem: Getty Images
É de praxe que os atletas dividam os prêmios entre todos da equipe, até o pessoal de suporte. Não se sabe a proporção, mas todo mundo ganha, afinal o ciclismo de estrada não é um esporte completamente individual. A Sky aparece no topo da lista de novo. Só Cris Froome recebeu 500 mil Euros pela vitória geral. Romain Bardet recebeu 200 mil Euros pela segunda posição e Nairo Quintana 100 mil. Fiquei curioso e fiz as contas para medir o retorno de cada euro investido em prêmios e o resultado é interessante: Sky recebeu 0,017 centavos para cada euro inteiro investido. A Katusha, segundo maior orçamento, recebeu 0,002 centavos de volta. BMC, terceiro maior orçamento, teve retorno de 0,004 centavos. A Ag2r La Mondiale, 0,02 (melhor retorno). A Bora-Aragon recebeu 0,07. Cannondale-Drapac com 0.001 (pior retorno).

E o time de ciclismo sério, onde fica? Nosso orçamento é simples: Não recebemos nada de patrocinadores e não ganhamos nada em prêmios. Simples desse tanto!

quinta-feira, 21 de julho de 2016

Você contra um profisional do Tour

Achei uma matéria interessante no site da Bicycling.com (original em inglês aqui) que compara alguns pontos de performance de ciclistas amadores com profissionais do Tour de France. Eu, sério que sou, vou me colocar contra Cris Froome, afinal a comparação tem que ser justa e séria. Praticamente séria. Vamos lá!

Canela fina é que faz subida boa. Foto: ridemedia.com.au

Pernas: 

Ciclista, sério: cabeludas x Cris Froome: depiladas

Em um contra relógio de 40 km, Froome deve ganhar entre 60 e 75 segundos sobre mim, com pernas cabeludas. Dito isto, os profissionais não depilam as pernas pela aerodinâmica; Eles o fazem pelas massagens e, em caso de queda, pernas raspadas cicatrizam mais rápido.

Soigneur, rala. Foto: Gettyimages

Caramanholas, as garrafinhas: 

Ciclista, sério: 3, mas só 2 tampas x Cris Froome: de 4 a 13

Aqui em Brasília, nesta época do ano, onde as condições de umidade e temperatura chegam muito próximas as condições do Saara, sair com uma garrafa só é garantia de desidratação. Dependendo das condições, um soigneur (um faz tudo da equipe de apoio) prepara de 40 a 120 caramanholas para cada estágio.

Rápido

Velocidade média em contra relógio

Ciclista, sério: de Tarmac bem dobrado x Cris Froome: De Bolide bem ajustado

Não que eu vá alcançar o Cristopher se montar numa Pina Bolide, mas deve ajudar bastante. Treinando Contra relógio em intervalos de 12 minutos com absolutamente nada "aero" em um percurso fechado ganhando cerca de 25 metros, consegui fazer entre 30 e 33 km/h de média. No décimo terceiro estágio do Tour desse ano, um contra relógio com cerca de 600 metros de ganho de elevação, Cris mandou 44 km/h de média, só não conseguindo superar Tom Dumolin.

Quase pega o Sagan, só que não.


Força máxima em Sprint

Ciclista, sério: Não tem perna pra fazer sprint no final do pelotão do lago sul X Cris Froome disputou com Peter Sagan uma etapa.

Tudo bem que o Sagan fez o Sprint quase com um sorriso no rosto, mas Froome estava lá pra sair na foto. Pra comparação, nos últimos 5 segundos de corrida até a linha de chegada, Marcel Kittel pode alcançar cerca de 1500 watts. Estima-se que um ciclista médio chegue a 600 - 800 W.

Sky Train. Foto: Watson

Velocidade média em terreno plano

Ciclista, sério: Com pelotão 35 a 38 km/h. X Cris Froome: 40 a 44 km/h

Chegar até o final do percurso no pelotão "B" do lago sul é por si só uma façanha. Quando o pessoal quer chegar mais rápido em casa pra não perder o Tour a média chega a 40 km/h, nessas ocasiões a coisa fica bem tensa. Já no pelotão profissional em um dia "fácil" (com fuga) a média chega a 44 - 45 km/h. Se bem que na terceira etapa do Tour 2016 a média ficou em 33 km/h.

Essa imagem é histórica

Quanto demora pra subir o Monte Ventoux

Ciclista, sério: Já subiu uma vez na vida outra montanha X Cris Froome: Sobe sério.

Em 2015 houve um suposto vazamento de dados de Froome na escalada do Monte Ventoso no Tour. Média de 389 watts durante os 20 km de subida. A minha escalada mais épica, cerca de 18 km a 6% (média) o estimado de força foi cerca de 210 watts. Ou seja, Cris sobe duas vezes enquanto eu completo uma subida.

Bicicletas disponíveis

Ciclista, sério: Uma Tarmac e uma Caloi pra levar as filhas X Cris Froome: PinarelloS 

Froome, o principal ciclista da poderosíssima Sky deve ter duas ou três bicicletas reserva, de estrada e de Contra relógio. Minha situação é muito boa, posso ter duas bicicletas! Uma muito boa e outra pra toda obra.

domingo, 17 de julho de 2016

Um Tour pelo Tour: Alguém pode bater Froome?

Alguém pode bater Froome? Até aqui, no décimo quinto estágio, acho que não. Cristopher Clive Froome não tem concorrentes este ano. Quiçá terá, em grandes voltas, enquanto estiver competindo. Eis o por quê da minha opinião:

Froomey ataca na descida.
Rinoceronte de Nairóbi
Eu achava que era só o tubarão do estreito de Mecina que podia atacar ladeira abaixo. Parece que ele aprendeu nos treinos em Tenerife.

Froomey ataca no plano.
Sagan x Froome
Maciej Bodnar e Peter Sagan atacaram à cerca de 10 km do final do décimo primeiro estágio. No plano. Quem respondeu? O cara de Nairóbi. Geraint Thomas veio para ajudar no esforço que terminou numa "disputa" entre Sagan e Froome. Disputa entre aspas por que Peter não fez um grande esforço para superar Froome.

Froomey se defende na tempestade de granizo.
Final épico!
 Froome se defendeu muito bem de Nairo Quintana, seu principal rival nas subidas do Tour deste ano, mantendo o colombiano atrás até a chegada. Isso no dia seguinte ao ataque no plano com Sagan.

Froomey ataca correndo.
Amassado
wruuuuuun!
Depois de colidir à 1.2 km do final, Froome simplesmente decidiu correr enquanto esperava a bicicleta reserva chegar.

 Froomey ataca no Contra Relógio Individual.
Froome meteu um nabo de tempo nos principais concorrentes à classificação geral no contra relógio individual.

Agora ele tem 1'47" sobre Bouke Mollema, que vem andando muito bem até agora. 2'45" sobre Adam Yates, que é a grande surpresa do Tour, ele não foi à França para disputar a classificação geral, a princípio. E 2'59" sobre Nairo Quintana, quem eu achei que poderia complicar a disputa. Ainda tem um contra relógio individual em subida e os Alpes pela frente, mas não creio que alguém possa vencer Froome na edição de 2016.

quinta-feira, 14 de julho de 2016

Tour pelo Tour


A ASO precisa ver isso aí... Imagem: @veloimages
Continuo não muito animado em pedalar pelas ruas, é verdade, mas o Tour é o Tour. E o final da etapa de hoje foi uma loucura. E isso não foi uma figura de linguagem, é sério.
Confusão feita. Imagem: Cyclingtips.com
A grande confusão foi a um quilometro e duzentos metros da chegada. Um encurtamento de 6 quilômetros no percurso feito pela ASO devido aos fortes ventos, que excediam 100 km/h no topo do Mont Ventoux (monte ventoso) fez com que o público se acumulasse na nova chegada. Uma estrada estreita, cercada por vegetação com pouco espaço pra assistir a passagem dos ciclistas. Significou...
E o Queniano corre! Imagem: ABC Austrália
O pessoal se espremeu pra ver a disputa pela camisa amarela que estava pegando fogo. Richie Porte atacava, Cris Froome e Bouke Mollema vinham atrás. Nairo Quintana já havia sobrado. A moto de uma equipe de TV que estava a frente dos três não conseguiu abrir caminho por entre os espectadores e freou bruscamente. Porte sem ter o que fazer, colidiu contra a moto, Froome caiu logo depois e Mollema voou por cima dos dois. Pra terminar o serviço, outra moto que vinha atrás acertou a Pinarello F8 ultralight (que dor no coração) quebrando um dos "seat stays". O que veio depois é que surpreendeu a todos: "Eu só comecei a correr", contra Froome. "Eu sabia que o carro (com a bicicleta reserva dele) estava preso 5 minutos atrás". G. Thomas complementa entre risadas: "Froome é do Quênia, estão se espera que ele corra quando não esteja com sua bici". Dave Brailsford, um dos chefões da Sky também brinca: "Sempre que subimos o Ventoux acontece uma surpresa, todos viram que foi um acidente. Talvez Froome corra a maratona de Paris agora". E a internet reagiu rápido também:
Sidi especial

Corridinha no Strava. Imagem @N_Squillari
No fim o juri do Tour decidiu neutralizar os tempos à partir do acidente, mantendo Froome com a camisa amarela e estendendo a vantagem sobre Quintana. Que dia para Cris Froomey!!!

quarta-feira, 13 de julho de 2016

Cuba e o respeito à vida

Havana velha
 Era para ser uma viagem de férias com a família pra um lugar muito diferente. Fui pra um país com uma história fantástica, ainda estou lendo sobre o assunto, mas já dá pra tirar algumas conclusões. Eu esperava que os cubanos fossem muito parecidos com os brasileiros. Afinal, fomos uma colônia de exploração até pouco tempo atrás. E como era comum em colônias, a mão de obra predominante era de escravos africanos, o que torna o aspecto físico das pessoas de lá semelhante com as daqui. A miscigenação lá se deu com descendentes de espanhóis e o fato não é o determinante para nossas diferenças.

Pulando direto pra revolução cubana de 59 liderada por Fidel, a ilha passou por maus bocados sob a sombra dos EUA. Uma briga direta contra a mais poderosa força militar do planeta que fica apenas 180 quilômetros de sua capital, - distância que pode ser vencida de bicicleta sem maiores dificuldades - obrigou a população a viver sufocada por um bloqueio naval quase que absoluto, deixando poucas opções de sobrevivência. Vale lembrar que a ilha basicamente produzia açúcar e tabaco. Talvez a revolução socialista e os anos de dificuldades tenham tornado o povo cubano mais próximo, respeitoso e humano. E o que vi na relação do uso das ruas e estradas do país é algo que me deixou muito surpreso. Tão surpreso que estou a ponto de parar de pedalar na rua aqui no Brasil.
Um domingo em Vedado. Aqui, só no eixão fechado.
Pude constatar em diversas situações nas ruas de Havana, das mais largas às mais estreitas, um respeito absoluto das pessoas que estavam nos carros pelas pessoas que estavam nas bicicletas. Direito de passagem, distâncias grandes (apesar dos grandes carros estados unidenses dos anos 50) e respeito ao tempo da bicicleta. Vi até um adulto levando uma criança para pedalar na rua. NUNCA tentarei repetir o feito aqui no Brasil, NUNCA! Na estrada não foi diferente, eu vi com meus próprios olhos ciclistas como eu pedalando na faixa de rolagem. Grupos grandes de cerca de 8 pessoas em bicicletas de estrada. Sem buzinas, sem finos. Nada, completamente em paz. Algumas situações que presenciei estava de carona em um carro, dos motoristas mais estressados aos mais "de boa", nenhuma ameaça de morte aos ciclistas por parte deles. Podem dizer que fiquei pouco tempo lá, mas na uma horinha que saí pra pedalar depois que voltei já levei mais finos e fechadas do que os dias que fiquei em Havana. Não é de se esperar isso de um país que tem um PIB 40 vezes menor que o nosso.

Não sei ao certo de onde vem o completo desrespeito à vida humana que é tão incrustado nas nossas almas. De todos nós brasileiros, uns um pouco mais outros um pouco menos. Somos muito escrotos uns com os outros. Pode ser herança da colonização exploradora, com a escravidão de índios e africanos que perdurou por mais de 400 anos. Pode ser a desigualdade institucional da sociedade capitalista contemporânea (que não mudou tanto desde 1500 e a desigualdade se aprofunda ainda mais), é o conhecido "eu paguei, eu posso" ou ainda: "eu paguei mais, eu cago na cabeça de vocês". Pode ser nossa justiça que só é "clava forte" contra quem não pode pagar. Não tenho meios de especificar o que exatamente nos torna tão perversos, teria que ascender ao nível de Sérgio Buarque de Holanda ou de Darcy Ribeiro pra entender o que se passa. Por enquanto fico com minhas suposições, chegar à altura deles leva tempo.

Minha vontade de levar o ciclismo adiante está por um fio. Tenho pouca esperança de que a falta de respeito com o próximo mude. Uma pena, eu gosto muito de pedalar.

terça-feira, 28 de junho de 2016

Torneio Capital de Ciclismo: Etapa Sudoeste

Seriedade somo nozes. Foto: Bruno Nogueira
Participei de mais uma etapa do Torneio Capital de Ciclismo aqui em Brasília, dessa vez no conhecido circuito do Sudoeste. Conhecido por quem pedala em competições há mais tempo que eu, por que nunca tinha corrido lá. Fiz um reconhecimento alguns dias antes pra não chegar tão verde na hora da prova, mas fazer curvas fechadas em pelotão é uma loucura. Foi bem menos tenso que as curvas do parque da cidade a 50 por hora com o pessoal do Moto GP. Curtinho com pouco menos que 2 quilômetros, o circuito não tem nada de fácil. A melhor definição veio do Marcello "Canela": "É um jogo de tênis, porrada de cá e porrada de lá" e foi um monte de porrada.

Um dos motivos de eu ter demorado a escrever sobre a prova é que pra mim ela foi bem morna. Cheguei bem perto do grupo da frente, andei forte pra pegar fuga, faltou assustar o pelotão. Acho que a graça da coisa é essa, ficar na rabeira só pra completar a prova não me deixa com um sorriso no rosto. Até tive uma oportunidade, mas acabei não "fondo". Tô arrependido. Uma coisa muito chata que aconteceu foi a combinação de bretelle e pernito que escolhi. Como não rola de ir com as canelas raspadas tenho usado um pernito na crença de que ficaria mais "aero". Ficaria se o pernito ficasse no lugar. Lá pra metade da prova, o negócio já estava no tornozelo. Minha vontade era de incinerar o pobre pernito, mas fui eu que não soube usar direito, pois só deu errado de um lado só. Foi poupado.
Doeu bastante.  Foto: Bruno Nogueira
A organização continua sensacional, melhorando a cada prova. Dessa vez vieram algumas opções de lanches no Kombuco e açaí. Excelente pra quem acompanha as atividades.

domingo, 5 de junho de 2016

Giro do Giro d'Itália: Esteban Chaves

Pois é, só tive essa ideia de título agora. Giro do Giro, será o lugar que escreverei sobre alguns pontos interessantes do Giro d'Itália 2016. Um mês atrasado, mas tudo dentro da normalidade. Vamos lá...
Sorrindo, só que não, Foto: Graham Watson
Começo a série pelo segundo colocado do Giro 2016, o "jóvi" Johan Steban Chaves Rubio. A história pessoal de Steban é sensacional, quem vê o baixinho sempre sorrindo não imagina o que esse cara passou recentemente. Ele tem 26 anos de idade, 3 correndo pela Orica Green-edge, 1,64 m e 54 quilos, Chavito sorri e muito. Mas não espere aqui um dramalhão tipo Faustão falando nas dificuldades na infância pobre na Colômbia... Não. Esqueça! Até por que eu não sei pelo que ele passou na Colômbia e outra por que eu acho um saco a idolatração meritocrática de quem vive uma vida mansa, tipo eu, de apontar pra TV e dizer "viu só, é um pobrezinho esforçado que subiu na vida". Um porre.

Em 2013, durante uma prova, Steban se acidentou feio. Feio tipo traumatismo craniano, sangue nos pulmões, mandíbula, costelas, clavícula, ouvido interno quebrados. Mas o pior foram o nervo auxiliar completamente destruído e o nervo escapular parcialmente danificado. Eu quase apaguei essa lista pra não deixar minhas fãs preocupadas (Esposa, filhas, mãe e irmã são fãs também...). Médicos colombianos e italianos disseram que ele não conseguiria competir profissionalmente, mas ele conseguiu encontrar uma chance. Nove horas de cirurgia, um nervo do pé retirado para reconstruir seu braço. A Orica Green-edge assinou contrato mesmo sem Chaves estar completamente recuperado. Em 2014 ele conseguiu um quarto na etapa rainha do Tour de Langkawi, e vitórias em etapas de montanha no Tour da Califórnia e da Suíça. Em 2015, onde Steban apareceu para o mundo, ele venceu duas etapas da Vuelta terminando em quinto no geral. E há algumas semanas, depois de vencer uma etapa do Giro, terminou em segundo no geral. O time australiano acertou em cheio na contratação!

Em entrevista, depois de ter sido superado por Vincenzo Nibali na útima etapa estando com a maglia rosa, disse: "É a primeira vez que meus pais vêm à Europa, a primeira vez que eu visto a maglia rosa, é o melhor momento da minha vida, só perdemos uma corrida de bicicletas". E continua: "Nibali e Scarponi mostraram e eles são os melhores. Eu não tinha pernas, a vida é assim" Sem nenhum sinal de desapontamento. Quando perguntado sobre ter tomado antibióticos, respondeu: "Sim, tomei. Mas não é uma desculpa, eu não sou o cara que fala isso ou aquilo como razão, não, simplesmente não tinha pernas e só"

Tem como não ficar fã de uma figura dessas?

Trechos da entrevista e outros detalhes, como do acidente, foram traduzidos da revista Cycling weekly.

terça-feira, 24 de maio de 2016

Criterium Grande Prêmio da Holanda: Eu fui!

Sério ali na esquerda
A primeira coisa que tenho a dizer é que foi muito legal a festa. Mesmo sendo o primeiro evento deste tipo aqui em Brasília, a estrutura estava sensacional. Tudo bem sinalizado para os ciclistas, usuári
os do parque e espectadores do evento. Brinquedos para as crianças e lanches pra todo mundo, dos naturebas ao gourmet. Tudo muito bom. A festa toda foi parte das comemorações do dia do Rei da Holanda onde vários eventos foram realizados por todo Brasil. Aqui temos ainda a exposição de trabalhos de Mondrian e do movimento De Stjil e tivemos dois eventos no bar Santuário e a prova ciclística no parque da cidade.
Os locais babam
Quando penso na Holanda é a primeira coisa que me vem a mente, nada poderia ser mais Holandês, me arrisco a dizer que é o simbolo secreto da Holanda: Drop. Sim, Dutch Drop. A pronuncia é tipo o Galvão falava "rrrrrronaldinho!". Nosso amigo Martjin nos ofereceu essa iguaria, mas não sem antes nos explicar que ele não estava de sacanagem com a gente, "Meu pai come um pacote desses de uma vez" nos alertou. Não vou tentar me atrever a descrever o sabor, é um negócio complexo. É o tipo de comida que os locais curtem, não eu. Perguntem ao idealizador da prova.
Bike Fishing: 12 mil bicicletas pescadas por ano
As bicicletas desempenham um papel importante lá também, talvez depois do Arenque Cru com cebola numa peixaria mais antiga que o Brasil, mas elas estão em toda a parte. Nas ruas, casas, bares, coffee shops, estações de trem (milhões delas) e no fundos dos canais. Voltando ao nosso quadradinho querido, mais especificamente ao parque, minha prova foi muito boa, tão boa que eu fiquei com mais vontade de treinar e não de vender a bicicleta.

A categoria open, onde me inscrevi, foi a primeira a largar, às 7 da manhã, infelizmente a Eurosport ainda não estava transmitindo ao-vivo, fazer o quê? Cheguei cedo, já tinha pegado meu numeral durante a semana, fui lá pra frente na largada pra evitar possíveis confusões, mas demorei 2 anos pra encaixar a sapatilha no pedal e acabei ficando um pouco pra trás. Novinho nervoso, normal. O pessoal também estava nervoso, acertaram um cone logo no inicio da prova, causando algumas quedas, desviei de tudo e todos conseguindo voltar ao pelotão. Não sei se é coisa dos ciclistas daqui de Brasília, mas o pessoal adora cones. Se tiver algum na rua, será derrubado. É tipo casco vermelho do Mario Kart. Lá pra metade da prova derrubaram mais um, mas sem consequências maiores. O ritmo seguiu bem razoável na primeira volta ali pelo meio do pelotão. Algumas fechadas tensas dos pilotos de Moto GP (pessoal da tangência na pista toda) outras freadas desnecessárias, mas era previsto, estamos na categoria dos iniciantes. Na subida do cemitério aquela puxadinha de leve, nada assustador ainda. O detalhe foi que subi sem descer a marcha pra coroinha, fiquei surpreso. Passar pelo pórtico de largada/chegada era uma diversão à parte. No restante da subida até o TCDF o pelotão acalmava, alguns reclamavam da queda do ritmo, mas quem reclamou não foi assumir a frente do pelotão. O cargo de puxar ficou na maioria do tempo com o pessoal da Veloce, Roberto Negrete levou a medalha de mais combativo pelo serviço prestado ao pelotão, garantindo média de 40,8 km/h no final da prova. As subidas do cemitério foram se sucedendo, segunda, terceira, sempre sem descer marcha. Só eu que perdia umas posições, mas sem perder o pelotão. O restante da subida do parque também era no mesmo esquema (todo mundo sabe, já dizia o Jucá). Eu já estava pensando em como fazer meu brilhareco. Terminar a prova no meio do pelote seria legal, mas não seria foda.

No inicio da última volta já estava decidido. O super ataque surpresa para aparecer no sports center já estava pronto na minha cabeça. Fui procurando a esquerda do pelote e esperando uma roda que me levasse lá pra frente. Lá pelo terceiro ciclista que avançou consegui um espaço pra entrar na fila, ali na altura do pavilhão de exposições, onde a subida inclina um pouquinho mais, quase chegando na frente do pelote e com bastante espaço na esquerda, ataquei. Tinha avistado uma moto amarela e uma câmera na mão do condutor, perfeito, vou sair na fita ainda! Pensei. Dois cliques no passador com o dedão da mão direita e duas marchas pra baixo. Crac, Crac fez a corrente descendo precisa (Ah, campy...), pé direito na frente, levanta e força, muita força. Segura a bronca aí 3T. Acelerei forte, deixei o pelotão pra trás e passei por um escapado que nem tinha visto antes de atacar. Crac! E mais uma marcha, a subida terminou e só ouço o barulho do vento e meu coração que estava mais ou menos na altura das orelhas. Já tinha chegado aos 40 por hora (Obrigado, Orbis II). Fique baixo, fique baixo, pensava. O suor pingava do capacete enquanto pedalava de cabeça baixa. Olhei pra trás e o pessoal ainda estava longe, em uma longa fila indiana, tinham reagido ao meu ataque. Olhei pra frente e o cara na moto não estava me filmando, bosta. Não durou muito, é verdade, fui pego por uma segunda passando a entrada do estacionamento do parquinho Ana Lídia, o outro escapado ainda chamou pra trabalharmos juntos, mas o pelotão já estava nos nosso calcanhares. Valeu cada segundo. Agora estava surpreso de verdade, gostei de mim (já dizia o professor Fábio lá no Colégio Apoio). No restante da volta estava me sentindo meio tonto. Não sei pelo pico de adrenalina ou pelo esforço. Muito provavelmente pelos dois. Mais uma subida do cemitério pra terminar, dessa vez acabei ficando. Passei mais uns sobrados e ainda tive ânimo de fazer um sprint no final.

Fechei a prova sorrindo e com planos de participar de mais provas do calendário. Planos de treinar mais, ir pra Holanda, conquistar o mundo e tudo mais. Espero muito que o pessoal da embaixada do Reino dos Países Baixos tenha tido o retorno esperado, quero mais ano que vem.

PS: Ainda não achei foto nenhuma minha heheh

sexta-feira, 20 de maio de 2016

Está chegando a Hora


Domingo acontece a maior prova de todos os tempos desde que comecei a pedalar aqui em Brasília. Ou seja, não tem muito tempo. Precisamente desde primeiro de novembro de 2012. (Saudade da Trek 1.2...). Bom, acontecerá no parque da cidade o Criterium Grande Prêmio da Holanda. Aproximadamente todas as pessoas que tem bicicleta com pneus finos na cidade estarão lá, já são mais de 480 inscrições. Na categoria que me inscrevi, 199 ciclistas no mega pelote.

Anotem nas agendas: 7 horas da manhã, nós da open largaremos para a glória do esporte. Quiçá direto para a Lotto-Belisol. Ouvi dizer que haverão olheiros em busca de ciclistas que nasceram em 1982, casado e com duas filhas, uma bicicleta preta de marca americana com rodas italianas. Pensei muito em contar qual vai ser a minha tática pra vocês, mas vou manter segredo. Só vou adiantar que será um ataque explosivo digno de Eddy Merckx. Em escala de 1/1000 (mil vezes menor).

Maior que meu nervosismo, é o meu desejo de que o Criterium seja um monstruoso sucesso, fazendo com que cada vez mais ciclistas participem de eventos como esse. Mais que uma competição, é uma oportunidade de pedalar em ruas fechadas com apoio e segurança. E, principalmente, o desejo de que se repita por muitos e muitos anos!

segunda-feira, 16 de maio de 2016

Avaliação: Bretele Mauro Ribeiro Black


Quando duas pessoas que não têm muita habilidade em manter uma conversa interessante (eu tenho muito pouca) acontece de ficar aquele silêncio constrangedor tipo: "ih, falo do quê agora?". Depois de falar do tempo, comigo às vezes ocorre um "salvador": "Pô, você é alto, heim?". "É, um pouco sim". Geralmente a situação não melhora e é melhor trocar de assunto. Não sei por quê as pessoas imaginam que ser alto é muito legal. Na verdade acho que só querem ser simpáticas, mas a média de altura nacional é de 1,72 m (IBGE, 2008/2009) e eu tenho 0,22 m a mais que a média. Eu não tenho mais que 2 metros de altura, minha vida não é um sofrimento completo. Mesmo assim, em várias situações é bem desagradável. Tipo ônibus, aviões, carros compactos, bicicletas da Caloi (Não tem a City Tour pro meu tamanho, Xatiado), camas (bem normal ficar com os pés pra fora) e chuveiros. Sim, chuveiros. Os elétricos são os piores, já levei vários choques na cabeça. Certa vez em um hotel em Montes Claros tomei banho com um chuveiro na altura do meu queixo.

Rebarba de painel aqui...
...e aqui, com costura sobrando na outra perna.
Ser "fora do esquadro" complica mais um pouco as coisas. Depois da bicicleta eu me tornei um cara alto e magrelo - Não aumentei de altura. Escolher roupas é um porre, só fazem calças GG pra quem tem uma linha de cintura GG e as G ficam no meio da minha canela. Os vendedores devem ficar muito p. quando eu vou escolher uma calça. Isso se aplica também às roupas de ciclismo. No início eu não me importava muito em usar camisetas largas balançando ao vento, era bem menos ruim. Hoje me sinto o ciclista mais desleixado quando uso essas camisas antigas. Os bretelles seguem uma linha semelhante à calças, ou são muito curtos ou não se ajustam direito.
O Forro é muito bom
E é nesse ajuste "marromenos" é que se encaixa o bretelle Mauro Ribeiro Black. Como já escrevi antes, é difícil de achar alguma coisa que caia bem. A descrição no site oficial chega ser engraçada, lá diz que o bretelle é ideal para pedais maiores de 10 horas de duração, eu me pergunto se tem alguém pedala mais que 5 horas em sã consciência. No BRM 200 levei umas 7 horas pra terminar e não devo repetir a dose. Nos meu treinos normais, eu teria que usar o negócio mais de 2 semanas pra completar as 10 horas. Bom, ignorei essa parte. Estava bem esperançoso por já ter lido avaliações muito boas sobre o produto, fui por amor à bandeira e comprei um G pela internet. No dia que chegou eu fui testar e a minha filha mais velha veio me ajudar a abrir a embalagem. A segunda ou terceira coisa que ela fez foi arrancar a etiqueta fora... 300 Dilmas que não foram bem gastas. O tecido é muito bom, bem confortável, porém as costuras são de doer. Os painéis são muito mal cortados e costurados, tem rebarba sobrando aos montes. O forro "airmash" é o ponto alto do bretelle, realmente muito confortável e as alças são boas também, só achei que faltou um pouco de tecido na parte de cima. Não é pra segurar a minha barriga, é pra escondê-la, tenho umas camisetas meio curtas que sobem enquanto pedalo, mas é problema meu.

sexta-feira, 13 de maio de 2016

Não gaste mais com sua Bici

Scott Foil de Hayman. Parece que é do meu tamanho...
Se tem uma coisa que eu gosto e que é uma certa unanimidade entre os ciclistas de estrada é que sempre precisamos de alguma coisa nova para a bicicleta. Desde rodas de perfil profundo com rolamentos que tendem a rotação infinita à uma fita de guidão que parece ser mais leve do que a atual. A quantidade de cacarecos em exposição nas lojas do ramo é uma tentação. Sempre que entro em uma loja procurando uma câmara, saio de lá precisando de outra coisa que eu nem sabia que existia. Mas ainda há um restinho de juízo em mim que me faz quase sempre sair sem comprar nada além do que realmente precisava. Quase. Grande parte desse autocontrole vem de histórias como a bicicleta do campeão de contra relógio Richard Bussell. E nesse ano de 2016 na Paris Roubaix uma história semelhante aconteceu.
Trek Domane de Cancellara.
A grande clássica Paris - Roubaix é daquelas competições onde os atletas costumam customizar suas bicicletas profundamente devido a superfície difícil da prova. A alteração mais básica são os pneus. Em vez dos 23 mm o padrão é o 28 mm. Fitas duplas no guidão, muitas variações no posicionamento dos passadores de marcha (eletrônicos) e até manete de freio na parte alta do guidom. A Sky utilizou as Pinarellos K-8s que possuem um amortecedor de 10 mm de curso na traseira. Mesmo os suportes de caramanhola também são modificados. Tudo isso para suportar a vibração que os famosos paralelepípedos causam. Esse ano (2016) Mathew Hayman, australiano da Orica-GreenEdge, venceu a Paris Roubaix com Tom Boonen, Ian Stannard e Sep Vanmarcke na cola, usando uma bicicleta "aero". Isso mesmo, uma Scott Foil, que é mais rígida que as bicis "padrão". Muito mais rígidas que os modelos "endurance" usados na prova, como a Pinna K-8s de Stannard e Specialized Roubaix de Boonen. De diferente na configuração de uma Foil "normal" foram só os pneus, 28 mm e coroas 53-44. Mais nada. Mesmo selim, fitas de guidão, freios, passadores que Mathew usa nas provas de estrada convencionais. E o cara venceu depois de 258 km pedalados sendo 52 km sobre paralelepípedos e várias horas de fuga.
Pinarello K-8s de Stannard
Agora serão duas histórias para serem lembradas durante a próxima visita a uma loja de bicicletas, droga...

quarta-feira, 11 de maio de 2016

6 Dicas para Alimentação Pós Pedal

Chegar em casa depois de um longo pedal, seja feliz pelos objetivos alcançados ou muito puto por ter perdido o pelote depois de 20 minutos (e ter feito um pedal de auto-flagelação depois do ocorrido), pode ser complicado. Abrir a geladeira pra pensar e ficar encarando a névoa seca por minutos a fio é bem comum nesses momentos. Aqui vão umas dicas pra tentar organizar a mente confusa nas profundezas gélidas do refrigerador:
O que eu vim fazer aqui mesmo? Imagem: Molly Hurford.
Nem Todos os Pedais requerem a Mesma Alimentação de Recuperação
Sejamos honestos: O pedal regenerativo de uma hora não necessita uma refeição pós pedal completa. Claro, belisque alguma coisa se estiver com fome ou almoce se for hora do almoço, mas seja realista sobre o quanto você precisa comer. 
Não Retorne de Barriga Vazia.
Se você está se alimentando corretamente durante o pedal, não deveria acontecer de chegar em casa faminto. Tenha certeza de que você está se hidratando e se alimentando bem enquanto pedala - muito provavelmente não será possível comer a mesma quantidade de calorias que se queima durante o pedal, mas deve ser o suficiente para segurar o prego de fome.
Comece com Proteína
Sua janela de recuperação é bem maior do que você pensa a não ser que você ainda vá pra academia no mesmo dia. Nesse caso, comece o processo de alimentação pós pedal logo que passar a porta de casa, assim você estará pronto para a próxima aventura. Comece com cerca de 20 gramas de proteína para ajudar os músculos a recuperarem-se, fontes como carnes, ovos, lentilhas ou faça uma refeição completa se tiver tempo. Nada de Whey, coma comida real!
Adicione Carboidratos
Você tem que restaurar suas reservas de glicogênio, então adicionar algumas fontes de carboidrato saudável como grãos integrais, arroz, frutas e vegetais a sua refeição pós pedal é uma ótima ideia. Não use o pedal como desculpa pra atacar bolos, biscoitos e outras guloseimas.
Não se esqueça da reidratação
Nas horas subsequentes ao pedal, beba água constantemente, especialmente se você sentiu que não tomou água suficiente durante o pedal. Não é necessário tomar um aquário inteiro logo depois do pedal, distribua o volume ao longo do dia.
...Aquela maravilhosa cerveja artesanal geladinha não conta
A ideia da cerveja pós pedal é muito tentadora, especialmente depois de um longo pedal no calor. Mas uma boa notícia: A cerveja não atrapalhará sua reidratação. Não exagere, o álcool não hidrata, então limite o consumo dele no pós pedal.
Original em inglês aqui na Bycicling.com

terça-feira, 26 de abril de 2016

Torneio Capital de Ciclismo

Eu sabia que ia acontecer, mas já tinha botado na cabeça que não participaria desta primeira etapa por vários motivos. Pra não enrolar o dia da família, pra não ficar na rua no dia do circo de horrores (17 de abril - achei que ia dar uma pancadaria na esplanada), entre outros. Nenhum desses motivos incluía o "não treinei". Não mesmo, se eu for esperar o momento certo em que eu me sentir treinado, não vou participar de uma prova por tão cedo. Não tem como eu pedalar 5 dias por semana. Meu treino é fazer prancha com a mais velha subindo nas minhas costas, quando ela quer.
Dia sério.
Mas sempre tem uma chance do contrário acontecer. No sábado (16) fui pedalar com o pessoal que sai do parque (acho que é organizado pelos Ciclomaniacos). A maioria estava em ritmo de passeio por causa da prova no domingo. Os poucos que não iriam participar resolveram forçar um pouco lá pra metade do pedal, fui junto com eles até chegar no local onde foi realizada a primeira etapa do Torneio Capital Racing de ciclismo. Lá a turma acalmou e voltamos ao ritmo de passeio. Demos 3 voltas. Foi o mesmo percurso da última etapa do ano passado, pertinho de casa, final da L3 norte, atrás do parque Olhos d'água. Na primeira volta já estava com muita vontade de participar, na segunda tinha certeza e na terceira já planejava o ataque fulminante que resultaria numa vitória acachapante que me levaria diretamente a um time profissional do World Tour!

Minha Largada, consegui não tremer a foto.
Refeitos os combinados em casa, passei o resto do sábado nervoso. Tem tudo aquilo que já escrevi aqui sobre não criar altas expectativas, mas a ideia de ir direto pra Sky me parecia viável, certamente o Froome já estava preocupado ao saber que me inscreveria na prova. No domingo já haveria recebido vários telefonemas de vários times europeus, alguns desejando boa sorte e outros tentando me convencer a mudar de time, afinal alguns dos grandes ciclistas estão se aposentando. "Tem vaga aqui no time de fábrica com café italiano" diziam (não posso revelar nomes ainda).

Fui lá, participei e sofri pra C. O domingo estava ótimo, pra velejar. Era batata, não tinha nenhuma regata marcada para o final de semana, logo ventaria muito. Segundo os registros do aeroporto, o vento chegou a 28 km/h na hora da prova. Foram 40 minutos de duração e mais uma volta depois que terminasse o tempo. O percurso tinha 3 curvas de 180 graus, e depois de todas elas uma aceleração forte. Me mantive atrás do pelotão, não tentei hora nenhuma ir pra frente, não estava muito confortável. Falta de experiência mesmo. A primeira volta foi puxada, o pessoal estava animado. A segunda foi um pouco mais calma. Na terceira o pessoal da Evolua puxou com força, a partir daí eu só torcia pra terminar logo a prova. Ô 40 minutos demorados, já estava duvidando da precisão do meu cronômetro. Quando o relógio finalmente fechou 40 minutos eu estava aliviado, meu super ataque derradeiro já tinha ficado pra próxima etapa, só queria chegar na linha e voltar pra casa. O World Tour pode me esperar. Já estava feliz por chegar junto com o pelotão, era o meu grande objetivo na verdade. Mas no trecho que antecede a chegada, o pedaço mais ventoso do percurso, eis que vejo a fiscal do evento de longe com o dedo indicador esticado indicando que ainda teria mais uma volta... Véi, tá de brinks comigo. Levantei, fiz força, mas já era tarde demais, o pelotão já estava longe e eu não tinha mais pernas pra chegar neles. Só consegui chegar em mais dois sobrados e terminar a prova.

Atenção no número, Sky
Logo depois encontrei uns amigos que havia tentado convencer a participar, sem sucesso. Deram a desculpa do "não treinei". A primeira coisa que perguntaram foi se tinha sido fácil. Acho que eu estava com uma cara boa depois da prova pra eles acharem que tinha sido tranquilo. Fácil seria um passeio cicloturístico por um campo de mini golfe. Doeu, porra. Mesmo assim gostei muito de ter participado, o pessoal da organização está de parabéns, vou tentar participar de todas as outras provas do calendário!

Muito tempo fora

Acorda!

Eu admito que estou com vergonha de olhar a data do último texto que escrevi aqui no blog. Depois da overdose de escrita que foi preparar um projeto de pesquisa pra iniciação cientifica tirei férias do teclado (achei um jogo muito legal também). Bom, acabou o descanso, que comece a festa por que tem muito assunto! Tem disco de freio assassino, dopping mecânico, eu participando de prova ciclística, italianos falando do Brasil, o Brasil... "Muito complitado" diria minha filha que fala português (a outra tá no Ianomami 6 do nível avançado). Agora vamos ao que interessa: ciclismo, sério.

sábado, 9 de abril de 2016

3T Orbis II na Rua

Um amigo ciclista já me falava que o melhor doping de todos é um brinquedo novo. Eu passei semanas sem conseguir sair "de boa". Mas finalmente os efeitos passaram, pero no mucho. Mesmo assim, é um sonho realizado. Girar com as Orbis II C50 Team é uma delícia. Me sinto como um profissional, claro que faltam pernas, pulmões, coração e substancias proibidas pra isso, mas é bonito. Eu gosto. Muito.
Monumentais
Eu tento não criar expectativas muito altas pra tudo na vida. Tentei muito não fazer o mesmo em relação ao meu desempenho antes e depois das Orbis II C50 Team. Conscientemente sabia que não sairia voando por causa de uma roda de perfil alto, mas quando as recebi faltando 50 minutos pra loja do Lazzaretti fechar, saí o mais rápido que pude pra trocar o cassete e conseguir sair pra testar bem cedo no dia seguinte. O resultado foi o que eu mais ou menos esperava, não foi uma mudança brusca de desempenho, mas sem dúvidas é diferente o esquema.


Até pendurada é linda
Como em um teste de FTP (limiar de força), os primeiros momentos podem ser descartados por excesso de empolgação. Foram dias fazendo força feito louco. Lembrando das primeiras voltas no parque o que mais me chamou atenção foi que eu conseguia acelerar e manter uma velocidade boa em subidas com pouca inclinação. Boa pra minha condição, vale ressaltar. E o som do freehub quando se para de pedalar é música! Depois de ter moído tudo fui testar as Orbis II no Buraco do Tatu. Fiquei bem decepcionado, com o que estava fazendo com minhas pernas, obviamente. Quase não saí de lá do fundo. Tenho que voltar lá de novo. Uns dias depois e peguei um pouco de vento (aqui não venta feito Fortaleza), foi bem esquisita a sensação. Me senti a bordo de um avião de novo, a turbulência mexe com a bicicleta, manter a linha reta exige um pouquinho mais de atenção. E olha que a 3T trabalhou em um desenho em "U" pra manter as coisas mais estáveis. As rodas com perfil em "V" e os discos devem ser uma loucura! O último pedal que fiz as coisas já foram mais suaves. Batimentos mais baixos, mais relax, só que não muito né? A média fica um pouco mais alta que com rodas quadradas, nenhum absurdo, mas melhora. As Orbis II são muito bem construídas, o acabamento é primoroso, dá gosto de ficar olhando pra bici pendurada na parede. São bem resistentes também, já furei uma câmara numa quina de ciclovia mal emendada e a roda continua firme. A frenagem no tempo seco também é muito boa, não senti diferença nenhuma pro alumínio. Não peguei chuva ainda, então não sei se piora muito, dizem que sim.

E a relação custo benefício? Bom, estamos falando de carbono. Muito provavelmente você já tenha um quadro de carbono bom e se você leitor está com a vida mais folgada, eu te sugiro uma coisa: Compre um porquinho de um tamanho razoável algo como um Fiat Uno 1983 e cole um nome nele, tipo "rodas da felicidade". Quando enchê-lo, jogue no chão e corra feliz pra loja de bicicletas mais próxima!