quinta-feira, 26 de novembro de 2015

Uma Subida Monumental


Essa não é uma grande subida por si só. Não tem uma grande inclinação desafiadora e muitas vezes nem parece que se está subindo. Se você não leu o primeiro texto deste blog, ou minha biografia aqui do lado, eu conto: Sou estudante de Arquitetura e Urbanismo e sou um candango que aprendeu a gostar do lugar e não penso em sair daqui tão cedo. Funciona mais ou menos assim pra quem vem de fora: ou você fica de boca aberta com a beleza da cidade, igual o João de Santo Cristo, ou você fica se perguntando por que as pessoas moram aqui, ou melhor, "cadê as pessoas dessa cidade!?".

Domingo de manhã
O Plano Piloto (que não tem desenho de avião, explico em outro post) é uma obra de arte de Lúcio Costa e algumas obras de arte tem que ser entendidas para serem devidamente apreciadas. Por isso é muito comum sentir um estranhamento inicial que pode virar repulsa ou, como no meu caso, virar encanto. Aqui no eixo Monumental, é fácil ficar encantado, afinal é a função dele, ser um monumento. A subida começa antes da praça dos Três Poderes. O Primeiro grande monumento à vista é o pavilhão nacional, o mastro de 100 metros de altura formado por 24 hastes que representavam as 24 unidades da federação quando foi inaugurado em 1972, projeto de Sérgio Bernardes. A bandeira é gigante, mede 283 metros quadros e normalmente ela está pendurada, aqui venta muito pouco, muito pouco mesmo. Logo depois tem a Praça dos Três poderes, projeto de Lúcio Costa com prédios desenhados por Oscar Niemeyer. Apesar de receber o nome de "Praça", lá não existe qualquer tipo de sombreamento. O chão é de concreto e não tem uma grama sequer. Esse é o centro do poder do estado idealizado por Montesquieu e como tudo na arquitetura Modernista - e estamos falando do ponto mais alto dela - tudo tem uma função muitíssimo bem definida. Aqui a praça tem a função de separar os prédios de maneira que não haja sobreposição deles. Na lateral do prédio do congresso, que não é centralizado, tem quase um degrau gigante que separa a Praça da Esplanada dos Ministérios. A inclinação do terreno era grande demais, esteticamente não ia ficar bom. O que tornou o esse trecho do congresso até a rodô um grande falso plano.
Rodô, Conjunto e Conic
Aí sim, logo depois tem uma subida curta até o cruzamento da W3. São 700 metros à 6%. A rodoviária hoje atende apenas ônibus locais e o metrô. A Rodô, outrora Plataforma Rodoviária, foi pensada por Lúcio (Meu "`bróder") como um grande centro cosmopolita chiquerésimo. A vista do pavimento mais alto é das mais belas da cidade. Porém, como em tantas outras partes da cidade, o uso foi completamente diferente do planejado, tanto que hoje o espeço tem o carinhoso apelido de Rodô. Embaixo dela passa o grande eixo rodoviário - eixão para os íntimos - que dá o desenho característico de Brasília (não é de avião, já falei isso?). Lá em cima, a Torre de TV domina o visual. Projeto de Lúcio costa, ela está assentada numa pequena colina artificial. A vista do mirante é imperdível. E o café também.

Torre de TV.

Monstrengo ali no cantinho. Não consegui tira-lo da foto...

Voltamos ao falso plano e nessa parte surge a "peça" mais monumental do Eixo Monumental. O Estádio Nacional Mané Garrincha. (Elefante branco é monumento?). Visto de longe, o monstrengo não parece pertencer ao local onde foi colocado. O estádio não tem tido muito uso depois da Copa do mundo de futebol de 2014 (7 x 1).

Centro Administrativo do GDF
Depois do trambolho a inclinação aumenta e a subida termina no ponto mais alto do Plano, esse natural, a Praça do Cruzeiro. Ali perto está o Memorial J.K., projeto de Oscar Niemeyer em homenagem ao falecido realizador de Brasília. Belíssimo por do sol deste ponto também.

Vista da parte mais alta do Eixo Monumental.
Próxima subida: Eixão Norte. Nesse texto vou explicar mais alguns detalhes de Brasília e por que não moramos num avião. Já morei vários anos em aviões, eu sei como que é. Acreditem em mim!

Eu acho que isso pode dar um TCC...

quinta-feira, 12 de novembro de 2015

Ciclista, criminoso.

Existem algumas coisas muito estúpidas mundo afora e até na natureza. Sim, na natureza. Nem precisa ir muito longe, nossos corpos tem alguns detalhes bem estúpidos. Nenhum projetista faria algumas besteiras tão grandes, mesmo sendo engenheiro ou advogado. Por exemplo, nossa garganta. Milhares de pessoas morrem asfixiadas por ano por causa de um pedaço de comida mal mastigado. Comer, é tão natural quanto respirar. E as duas coisas se cruzam por alguns momentos dentro da mesma cavidade. Outro exemplo, temos um parque de diversões no meio de uma área de esgoto, no entanto é assim que nós nos reproduzimos, ou não. 

Charge muito bem feita do Junião

Não tem muito tempo estava lendo uma matéria sobre um projeto de lei que tramita num dos lugares mais estúpidos dos últimos tempos, a Câmara dos Deputados brasileira. Sobre o PL 2180/15 feito por Fábio Reis, PMDB-SE. Vale a pena clicar lá, ler e depois voltar aqui. Vou deixar uma imagem motivacional enquanto isso...
Fabian Cancellara, Roubaix 2010. Uma lenda que vai se aposentar em 2016. Foto: Cyclingweekly
Tudo bem, um resuminho: "Em relação aos ciclistas, o texto aprovado considera infração gravíssima, com pena de multa e retenção da bicicleta, deixar de transitar nas ciclovias ou ciclofaixas quando a via dispuser deste tipo de pista. Nesse caso, se o ciclista não possuir Carteira Nacional de Habilitação (CNH), o valor das multas será vinculado ao número de Cadastro de Pessoa Física (CPF), podendo ser o valor inscrito em Dívida Ativa em decorrência de inadimplência.". 

Vou usar Brasília como exemplo, já que aqui tem bastante ciclovias. Nós, estradeiros e contra-relogistas teríamos que treinar nas ciclovias, isso mesmo, a 30 / 40 km/h naquelas pistinhas de concreto irregular onde pedestres andam tranquilamente olhando pro infinito ou pior, pro telefone. Ou pegar um carro pra ir treinar no Lago Sul/Norte. Imaginem a cena estapafúrdia de uma apreensão coletiva de um pelotão treinando na L4 norte (tem alguns trechos de ciclovia perto da UNB).

Lembro de ter lido e pensado que a proposta era idiota demais pra passar em algum tipo de comissão. Pois é, passou pela comissão de Viação e transportes. O projeto vai passar agora pela comissão de constituição e justiça. Pensando bem não sei por que estou surpreso, Cunha segue firme na presidência da Casa...

segunda-feira, 9 de novembro de 2015

Pipoca ou não pipoca, eis a questão!

Tem um cruzamento aqui perto de casa que eu costumo passar repetidas vezes durante meus treinos. Não tem sinaleira por ser pouco movimentado. É uma saída de uma comercial que tem um retorno logo depois, tem vários desses em toda L2. É também caminho pra quem vai para UNB, via L3 Norte. Esse trechinho da L2 é em aclive, por isso, ótimo pra treinar o que eu gosto. Só que como subo devagar, os motoristas sempre ficam me olhando com cara de interrogação - isso quando me vêem - tipo: Espero? Vou logo? Passo por cima? Escrevi "Regras de trânsito com o Ciclista, Sério" depois de passar várias vezes nesse cruzamento.


É bem ali que vai acontecer a última etapa do Campeonato Capital de ciclismo. Domingo, rua fechada, maravilha! Nenhuma ameaça de morte! Só que não. A chamada "Pipoca" divide opiniões e egos pegam fogo nessa hora. 


Eu sou partidário de que a rua é Pública, e tudo que não vá ameaçar o andamento do evento pode circular por lá. Logo, todo pipoqueiro que quer aproveitar a tranquilidade de uma rua livre de carros, tem que estar muito atento e ser muito ético. Atento pra não atrapalhar quem compete, não entrando no pelotão e saindo do caminho antes que você seja alcançado. Ético pra não sair catando coisas que o organizador disponibilizou aos pagantes do evento, essas sim, são particulares. Isso é muito feio, criançada. Pegar medalha então? Nem pensar! Não sigam o exemplo desse rapaz, José Maria Marin que está preso desde maio deste ano.

terça-feira, 3 de novembro de 2015

União Ciclística de Todo Dia

Li esses dias um texto da Renata Falzoni sobre o "Preconceito dos cicloativistas". De primeira achei tudo muito bobo, afinal, é tudo bicicleta. Aí eu pensei mais um pouco e cheguei a conclusão de que o preconceito é uma bobeira sem cabimento.

Dia normal na trilha
Eu adoro fazer piada com o pessoal do Mountain Bike. Esse negócio de tudo que aparece pelo caminho ter que descer da bicicleta não entra na minha cabeça. Tem subida? Desce da bicicleta! Tem descida? Desce da bicicleta. Boteco vendendo cerveja? Descem todos da bicicleta. Eu não entendo. Mesmo sem entender, todos nós pedalamos, às vezes na mesma rua. Estamos a mercê do mesmo trânsito.

Mesma coisa do pessoal que só sai pra pedalar no eixão no domingo. Se retirarmos esses ciclistas da pauta, como iremos lutar contra os esqueitistas que ficam zanzando sem direção cruzando SETE faixas de TRÊS metros cada uma o tempo inteiro? Eles não pedalam...

Fiquei meio surpreso por que eu, "speedeiro" (ciclista de estrada) dependendo do humor do cicloativista posso ser riscado da conversa. Entendo que os pelotões, à primeira vista, parecem um bando de neuróticos fugindo do furgão do sanatório, depois de tomar um pacote inteiro de um tarja preta muito forte, de uma só vez (e depois chamar o Lance ou qualquer outro ciclista mais forte de dopado).
Ciclista
Falando sério, o trânsito é perigoso pra todo mundo que pedala. Quando o assunto é o bem comum, temos que tratar o assunto com seriedade.