quarta-feira, 23 de setembro de 2015

Como comecei a Paternidade

Brics. O grande bloco econômico recém-formado que tem feito o equilíbrio do mundo mover-se mais para o oriente. China e Rússia tem assustado a Otan constantemente. E o Brasil optou por pegar esse bonde exportando commodities para os dois gigantes comerciais. Acho muito esquisito a grande onda conservadora vira-latas nacional não reclamar constantemente dos acordos comerciais do grupo, afinal Obama não participa da festa. Aliás, ninguém toca no assunto, progressistas ou conservadores. Só que justo no dia 21 de fevereiro às 10 da manhã uma comitiva russa resolveu deixar Brasília.

21 de fevereiro ás 14 horas de um dia nublado em Brasília, veio ao mundo aos berros a Elis. 35 semanas e um dia de parto natural hospitalar como havíamos planejado. Foi rápido, quase que eu perco também por causa dessa um comitiva russa. No dia anterior Ana (era Ana ainda, em poucas horas se tornará a Mãe de Elis) já sentia um grande incomodo, lugar nenhum ficava bom. Já tinha procurado a Doula que também é acupunturista, mas mesmo assim não resolveu. Eu havia voado o dia todo, estava moído também, nada parecido, só cansado. Fui dormir tarde e preocupado. No dia 21 estaria de reserva, não rolou. Logo cedo, umas 6 da manhã, Ana liga dizendo que estava sentindo contrações ritmadas. Não era “nada”, um buscopan e repouso resolveriam tudo, disse ela. Só que não. Uma amiga nossa passaria lá pra casa pra levar o remédio e eu não peguei o voo das 7 de Campinas pra Brasília. Pois é, estava a mais de 1000 km de casa. Fui dormir mais um pouco por que estava “tranquilo”. 9 da manhã outra ligação. “As contrações ainda estavam ritmadas de 4 em 4 minutos, mas a última tinha demorado 8”. Ela estava indo para o consultório da G.O. para ter certeza de que estava tudo bem. Como eram 35 semanas apenas eu não achava que iria acontecer um parto normal, ainda mais com tão pouco tempo de gestação. Mesmo assim, juntei as coisas, joguei tudo na mala e peguei um táxi para o aeroporto, em uma hora sairia um outro voo pra Brasília. Tinha acabado de entrar no táxi quando Ana ligou de novo. Era sério, já estava no quinto centímetro de dilatação. No caminho fiz a besteira de avisar a escala de que não estaria no aeroporto para cumprir minha reserva daquela tarde, pois Ana estava em trabalho de parto. Besteira por que na ocasião de uma falta, o passe (algo como uma passagem "de graça" para o funcionário) era automaticamente bloqueado pelo sistema de passagens. O que é proibido por lei, inclusive. Aconteceu, cheguei no aeroporto em cima da hora e meu passe havia sido bloqueado. Por sorte a agente de aeroporto conseguiu desenrolar o problema mesmo sem entender bulhufas do que estava falando. Falava enrolado enquanto pensava num jeito de embarcar naquele avião nem que fosse no trem de pouso. Por sorte não precisou. Ia acabar preso e perderia o parto de qualquer jeito. Levei a minha mala no porão e fiz o que nunca tinha feito antes, sentei na primeira poltrona do lado esquerdo do corredor, a mais perto da porta de saída. Durante o voo contei todas as cidadezinhas que passavam pela janela e reclamei toda vez que ouvia uma redução nos motores. O voo só não foi mais demorado que os malditos madrugadões. Descida, pouso, andamos devagar, paramos e esperamos. Esperamos mais um pouco, mais outro pouco... Já estava fazendo as contas de quanto demoraria pra abrir a saída de emergência, correr pela pista e pegar um táxi pro hospital. Felizmente não fiz essa outra besteira que me faria perder o parto por estar preso só que dessa vez a poucos quilômetros do hospital. E esperei mais um pouco até que pude ver um avião de bandeira russa com prioridade pra decolar. Putin... Hoje, mano? Fala sério!!! Finalmente paramos e fiz outra coisa que nunca tinha feito, levantei rápido antes que a primeira pessoa chegasse até a porta. Até a comissária que me conhecia se assustou. Expliquei o que ocorria e desci do avião antes do agente de solo chegar na porta. O Agente, que eu também conhecia (na verdade conhecia todo mundo do aeroporto de Brasília pelo uso frequente) me olhou com cara de quem não estava entendo p. nenhuma, de passagem consegui explicar a situação e pedir pra alguém guardar minha mala que estava no porão. Saí correndo pela pista até o terminal e até o táxi. Nesse dia estava com um monte de dinheiro em espécie na carteira, o que quase nunca ocorre (é tipo a cada ano bissexto) Chegando na W3, engarrafamento... Nisso a Doula liga pra saber onde eu estava, pois Elis já estava pra nascer, 10 centímetros de dilatação. Ana já havia entrado no expulsivo. Pela terceira vez pensei em abrir a porta e sair correndo pela rua. Não seria preso, talvez atropelado. De novo achei melhor ficar no carro. Chegamos perto do hospital e finalmente pude sair correndo pra lá. Burocracias e pra evitar o elevador muito demorado, fui pelas escadas. Nesse momento todo mundo do hospital estava sabendo da história do pai piloto que estava pra chegar, MENOS quem entregava a roupa pra entrar no centro cirúrgico. Juntei toda minha paciência, que não é muita e naquela hora já estava no volume morto, pra tentar explicar prapessoa que eu precisava entrar lá e rápido. Mais sorte ainda foi que não precisei falar muito, uma enfermeira apareceu correndo na sala pra me salvar, ou salvar quem me atendia, talvez. Até consegui colocar a roupa pro lado certo foram mais uns minutinhos. Enfim juntos! Finalmente relaxamos e 40 minutos depois da minha chegada veio Elis para nossos braços.

E esse foi o ponto inicial de uma grande mudança que ainda estou passando. Já não trabalho mais como piloto e sigo lutando contra velhos hábitos passados por várias gerações e pela sociedade. Desconstrução é a palavra. É um longo processo, doloroso as vezes, mas tem sido bom e sem volta.

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