quarta-feira, 13 de julho de 2016

Cuba e o respeito à vida

Havana velha
 Era para ser uma viagem de férias com a família pra um lugar muito diferente. Fui pra um país com uma história fantástica, ainda estou lendo sobre o assunto, mas já dá pra tirar algumas conclusões. Eu esperava que os cubanos fossem muito parecidos com os brasileiros. Afinal, fomos uma colônia de exploração até pouco tempo atrás. E como era comum em colônias, a mão de obra predominante era de escravos africanos, o que torna o aspecto físico das pessoas de lá semelhante com as daqui. A miscigenação lá se deu com descendentes de espanhóis e o fato não é o determinante para nossas diferenças.

Pulando direto pra revolução cubana de 59 liderada por Fidel, a ilha passou por maus bocados sob a sombra dos EUA. Uma briga direta contra a mais poderosa força militar do planeta que fica apenas 180 quilômetros de sua capital, - distância que pode ser vencida de bicicleta sem maiores dificuldades - obrigou a população a viver sufocada por um bloqueio naval quase que absoluto, deixando poucas opções de sobrevivência. Vale lembrar que a ilha basicamente produzia açúcar e tabaco. Talvez a revolução socialista e os anos de dificuldades tenham tornado o povo cubano mais próximo, respeitoso e humano. E o que vi na relação do uso das ruas e estradas do país é algo que me deixou muito surpreso. Tão surpreso que estou a ponto de parar de pedalar na rua aqui no Brasil.
Um domingo em Vedado. Aqui, só no eixão fechado.
Pude constatar em diversas situações nas ruas de Havana, das mais largas às mais estreitas, um respeito absoluto das pessoas que estavam nos carros pelas pessoas que estavam nas bicicletas. Direito de passagem, distâncias grandes (apesar dos grandes carros estados unidenses dos anos 50) e respeito ao tempo da bicicleta. Vi até um adulto levando uma criança para pedalar na rua. NUNCA tentarei repetir o feito aqui no Brasil, NUNCA! Na estrada não foi diferente, eu vi com meus próprios olhos ciclistas como eu pedalando na faixa de rolagem. Grupos grandes de cerca de 8 pessoas em bicicletas de estrada. Sem buzinas, sem finos. Nada, completamente em paz. Algumas situações que presenciei estava de carona em um carro, dos motoristas mais estressados aos mais "de boa", nenhuma ameaça de morte aos ciclistas por parte deles. Podem dizer que fiquei pouco tempo lá, mas na uma horinha que saí pra pedalar depois que voltei já levei mais finos e fechadas do que os dias que fiquei em Havana. Não é de se esperar isso de um país que tem um PIB 40 vezes menor que o nosso.

Não sei ao certo de onde vem o completo desrespeito à vida humana que é tão incrustado nas nossas almas. De todos nós brasileiros, uns um pouco mais outros um pouco menos. Somos muito escrotos uns com os outros. Pode ser herança da colonização exploradora, com a escravidão de índios e africanos que perdurou por mais de 400 anos. Pode ser a desigualdade institucional da sociedade capitalista contemporânea (que não mudou tanto desde 1500 e a desigualdade se aprofunda ainda mais), é o conhecido "eu paguei, eu posso" ou ainda: "eu paguei mais, eu cago na cabeça de vocês". Pode ser nossa justiça que só é "clava forte" contra quem não pode pagar. Não tenho meios de especificar o que exatamente nos torna tão perversos, teria que ascender ao nível de Sérgio Buarque de Holanda ou de Darcy Ribeiro pra entender o que se passa. Por enquanto fico com minhas suposições, chegar à altura deles leva tempo.

Minha vontade de levar o ciclismo adiante está por um fio. Tenho pouca esperança de que a falta de respeito com o próximo mude. Uma pena, eu gosto muito de pedalar.

3 comentários:

  1. Agora deu vontade de pegar a bicicleta e dar uma volta lá. Andamos na Colômbia (Cartagena), fora da cidade amuralhada e a sensação não foi muito boa: ruas estreitas e carros buzinando sem parar. Como são as bicicletas por lá? De passeio? Mountain? Estrada? Abraço.

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    1. Vi algumas de passeio por Havana, e outras tantas de estrada indo e voltando pelas rodovias. O pessoal da mtb devia estar escondido no mato. Só não o melhor lugar do mundo pra pedalar por que o calor é insuportável a pé!

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  2. Da uma lida Lucas, o que você acha? http://www.biketoworkblog.com/three-reasons-you-should-be-comfortable-taking-the-lane/#more-839

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