Nesses dias que estive na Bahia, mais precisamente em Lauro de Freitas, município que faz parte da grande Salvador, pude revisitar alguns locais onde passei grande parte da minha vida - até os 19 anos, quando me mudei para Porto Alegre. Muita gente pedalando, como sempre foi. Agora como esquerdista e ciclista, eu resolvi... Problematizar!!! Viva!!!
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foto: www.projetotransite.com.br/ |
Bom, o cenário é mais ou menos assim em todo o litoral norte, de Lauro de Freitas até a Praia do Forte: a longa via que cruza o percurso, apelidada de "Estrada do Coco" separa dois mundos bem distintos. Mesmo depois de 118 anos, ainda é possível enxergar casa grande e senzala. A casa grande, via de regra, fica no lado costeiro da estrada, com fácil acesso às praias, infraestrutura, restaurantes e tudo que pode se tornar "gourmet". Um ou outro condomínio é exceção à regra, fica no lado oposto ao mar. Desse mesmo lado, vivem os trabalhadores que servem à casa grande, espremidos em guetos, com todos os problemas que esse tipo de ocupação e o descaso das autoridades acarretam.
O transporte público é precário e a renda é muito baixa. Assim, a bicicleta torna-se o meio de transporte para grande parte da população. Eu lembro, nos meus tempos de colégio, das ruas entupidas de "barra fortes" e "barra circulares" quando saía de casa cedo para ir para escola. Lá se vão quase 20 anos dessa lembrança e, até hoje, essas pessoas, cidadãos e cidadãs de bem, humanos, não são considerados ciclistas. 20 anos se passaram e ainda não tem ciclovia, ciclofaixa, ciclo-ativismo, 1,5 metros de distância, absolutamente nada!
Toda essa gente trabalhadora que nunca vai conhecer a Holanda, bicicleta do Itaú, nem mesmo as novas ciclovias de São Paulo, corre o risco diário de morrer sob uma suv luxuosa e ser apenas mais um número estatístico e que não compra bicicleta em "bikeshops". Elas e eles vão seguir fora da "vibe", do Strava e da vida cotidiana de um ciclista de classe média.
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